Pesquisas ajudam nas políticas de educação

AssCom Alex Canziani
15 de junho de 2016 - 14:51 h

O professor e pesquisador Paulo Blikstein, da Universidade de Stanford (EUA), defendeu investimentos na pesquisa em Educação e na formação de professores para o país superar o atraso do seu sistema de ensino. “Não basta intuição. Para desenhar um sistema educacional eficiente, o Brasil precisa se basear em evidências objetivas”, sustentou Bilkstein, que participou hoje de manhã, na Câmara dos Deputados, em Brasília, do ciclo de palestras “Educação em Debate” a convite da Frente Parlamentar da Educação do Congresso Nacional, presidido pelo deputado Alex Canziani (PTB-PR). O ciclo, da FPE, tem o apoio da Comissão de Educação da Câmara.

Ele e o professor americano David Plank falaram da pesquisa acadêmica do Centro Lemann de Stanford, programa desenvolvido há dez anos numa parceria entre a Stanford Graduate School of Education e a Fundação Lemann, para promover a melhoria da educação pública brasileira. As atividades do centro incluem a formação de pesquisadores e professores, o desenvolvimento profissional de educadores brasileiros, e a investigação sobre as políticas educativas e de aprendizagem inovadoras.

Plank acrescentou que a estratégia do centro inclui também formar uma rede de especialistas voltados à melhoria da Educação e disseminar novos conhecimentos desenvolvidos no setor.

PESQUISA E POLÍTICAS PÚBLICAS – Os dois defenderam a tese de que os pesquisadores brasileiros poderiam ajudar os formuladores e tomadores de decisão a promoverem melhores políticas. “Pesquisas fazem diferença nas políticas públicas”, garantiu David Plank.

Paulo Blikstein explicou que as pesquisas podem ajudar na formulação a partir da leitura crítica das propostas e fazer a conexão das iniciativas nacionais com os diversos trabalhos já realizados, aproveitando a experiência de outros países. Um exemplo, apontou ele, é o debate sobre a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) em discussão atualmente no Brasil.

BASE NACIONAL – O presidente da frente, Alex Canziani, defendeu a adoção de uma base nacional curricular no Brasil. “Se o grande desafio do Brasil no passado era ter todas as crianças na escola, hoje o nosso objetivo é melhorar a qualidade na educação. A base comum é um importante instrumento para isso, pois ela garante o direito aos alunos à aprendizagem, permite aos pais acompanharem melhor o aprendizado dos seus filhos, dá aos professores e gestores da educação os parâmetros para avaliar a qualidade da educação nas escolas”, argumentou Canziani.

Blikstein sustentou que a base curricular se mostrou um dos raros instrumentos de política pública que conseguiram promover mudanças na Educação em larga escala com eficiência em todo o mundo. “A Base é aspiracional, tem que olhar para o futuro, a direção tem que ser moderna. A base tem que ter qualidade porque mexe com estratégias de 15 – 20 anos, impacta na reformulação de livros didáticos, investimentos em laboratórios e na formação de professores”, disse ele.

PROFUNDIDADE X QUANTIDADE – O deputado Rogério Marinho (PSDB-RN) manifestou preocupação de que a amplitude da base possa comprometer seus objetivos. Ele pediu mais prazo para esse debate: “Estamos falando de 60 milhões de alunos. Deveríamos, primeiro, implementar uma base comum apenas para as matérias de Português e Matemática, deixando as outras para depois”, defendeu Marinho.

Bilkstein foi nessa direção: “Uma questão importante é a profundidade dos conteúdos. Uma recomendação é focar na profundidade no lugar de uma quantidade maior de conteúdo. Os especialistas precisam ter experiência no conteúdo, mas também em educação. Antes, os técnicos apenas listavam um conteúdo pretendido e deixavam o sistema se virar para passar para os alunos. Precisamos de técnicos que entendam profundamente do processo pedagógico”, ponderou ele.

Plank explicou que a base nacional curricular dos EUA começou, como propõe Marinho, por duas matérias: inglês e matemática. Para ele, a qualidade é central na discussão da BNCC. “O processo deve ser inclusivo, aberto, mas também rigoroso. Lançar mão de especialistas para estabelecer bons padrões. A base é a alavanca para mudar, mas não é a mudança em si. É preciso compromisso com a implementação. É também preciso estar atento aos padrões, que mudam constantemente, fazer avaliações periódicas e formação permanente. A Base é o primeiro passo de uma jornada longa que exige comprometimento”, acrescentou Plank, que participou esta semana de um debate sobre a BNCC, realizado em São Paulo pelo Centro Lemann de Stanford.