Lei Eleitoral já prejudica fábricas de bonés

Faltando apenas 145 dias para as eleições deste ano, regras eleitorais ainda estão indefinidas pela Justiça Eleitoral. Em nenhuma eleição recente no Brasil, a classe política e seus partidos estiveram numa situação tão desorganizada como a de 2006.
E isso penaliza também a sociedade e, principalmente, os segmentos produtivos, que dependem da definição das regras eleitorais para se estruturar e ampliar suas vendas.
Em meio a este quadro de dúvidas, a economia de Apucarana é uma das que mais sofrem no País as conseqüências da bagunça eleitoral.
A mudança da Lei Eleitoral, que pode ou não vigorar neste ano, deixa os empresários do setor de bonés literalmente “vendidos”, quanto a faturar ou não os pedidos de campanha política. Pelas regras da nova lei, qualquer tipo de brinde, seja boné, camiseta ou chaveiro, fica proibido na campanha eleitoral.
Contudo, mesmo que as mudanças não valham para este ano e prevaleça a legalidade para divulgação de candidatos e seus respectivos números em bonés e camisetas, as fábricas do setor já terão contabilizado um significativo prejuízo.
PERDAS – Estimativas de empresários do segmento já indicam uma frustração de vendas na faixa de 30% do que poderia ser fechado neste período pré-eleitoral. Eles explicam que, em ano de eleição, todos precisam de um tempo prévio de planejamento e preparação para as vendas de bonés políticos.
Entre tais providências da fase de planejamento, incluem-se compra de insumos, tecidos, maquinários e contratação e treinamento de mão-de-obra extra. As dúvidas que persistem quanto ao que será permitido ou não, já comprometeram esse processo.
Negociações estão paradas
O presidente da Associação Brasileira de Fabricantes de Bonés de Qualidade (Abrafabq), Jayme Leonel, revela que, por conta dos questionamentos acerca das mudanças na Lei Eleitoral, as fábricas de Apucarana não estão mais recebendo pedidos de cotações para as eleições deste ano. “Até o mês de março as fábricas de Apucarana ainda estavam recebendo pedidos de cotação de preços para lotes de bonés políticos, mas isso já parou por conta da indefinição das regras para a eleição de outubro”, revela Leonel.
Para Jayme Leonel, que também é responsável pela governança virtual do Arranjo Produtivo Local de Bonés (APL), a situação vivenciada pelo setor é absurda. “Estamos a 145 dias do primeiro turno, que decidirá a troca ou reeleição do Presidente da República, dos governadores, dos deputados e de um terço dos senadores, e nem mesmo as regras para a campanha eleitoral são conhecidas”, critica ele.
Setor poderia abrir 2 mil vagas – Leonel informa que as fábricas de Apucarana produzem em torno de 5 milhões de peças/mês, que equivalem a cerca de 50% da produção nacional. “A produção em ano eleitoral cresce em até 1,5 milhão de peças/mês, no período que vai de maio a setembro”, revela o empresário.
As dúvidas que ainda pairam sobre as regras que irão vigorar neste ano também devem impactar na contratação de mão-de-obra temporária. “Em condições normais, as fábricas locais poderiam contratar de 1,5 mil a 2 mil trabalhadores extras neste período pré-eleitoral”, avalia Jayme Leonel, presidente da Abrafabq, acrescentando que isso, da mesma forma, já está comprometido.
Leonel lembra que os empresários do setor se mobilizaram e foram conversar com deputados e senadores em Brasília. “Nós argumentamos que o boné não é uma peça cara na campanha eleitoral e seu processo de produção gera muita mão-de-obra”, disse.
Para ele, em meio à crise em Brasília ainda é possível que a lei que reduz gastos de campanha eleitoral passe a valer na eleição deste ano.
CANZIANI: REGRAS NÃO DEVEM MUDAR – “Se prevalecer o mesmo tratamento dado à verticalização das coligações políticas, é provável que as mudanças nas regras eleitorais, como a proibição da distribuição de brindes, não entrem em vigor neste ano”. Quem admite isso é o deputado federal Alex Canziani (PTB) ao ser consultado nesta semana pela Tribuna.
Ele explicou que, para entrar em vigor, a alteração na lei deve ser aprovada pelo menos um ano antes da eleição. “A verticalização foi derrubada no Congresso, mas o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já oficializou que ela continua valendo para a eleição de outubro próximo”, assinalou Canziani, lembrando que a questão ainda gera disputa no âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF).
Segundo o deputado Canziani se prevalecer a lógica, o TSE não deve fazer vigorar as novas regras eleitorais neste ano.
(Tribuna do Norte, Apucarana)