Crise do agronegócio preocupa Alex

A crise pela qual passa o setor brasileiro do agronegócio foi motivo de um pronunciamento realizado na Câmara dos Deputados pelo deputado federal Alex Canziani (PTB-PR). O parlamentar sente-se “angustiado” com a situação. “O agronegócio foi transformado em uma calamidade”, avalia o parlamentar.
Em seu discurso, Canziani ressaltou que o problema não diz respeito apenas ao produtor, “mas ao Brasil, já que, nos últimos anos, o setor foi o maior responsável pelo crescimento do PIB nacional”. A derrocada do campo, a partir do ano passado, implica um retrocesso no crescimento. Sem ele – continua o deputado – a economia tende a se retrair de forma inapelável.
Alex Canziani ressalta que o agronegócio trata das exportações e da produção supostamente mais assistida, em termos de crédito e de implementos, supostamente, portanto, em condições de arrostar a crise. “Que dizer, então, do pequeno agricultor, daquele que mal e mal subsiste da agricultura familiar, sem dispor das condições mínimas para produzir?” Para o parlamentar, a crise é generalizada, “sua radiografia é uma lástima: o setor agoniza”.
Para exemplificar, o deputado mostrou a seus colegas, durante o discurso, o desempenho das duas últimas safras de grãos: notadamente no Sul do País, as condições climáticas adversas já provocaram uma perda que supera 24 milhões de toneladas. E cutuca o Governo: “Some-se a isso a incontrastável falta de apoio oficial. A destinação de recursos para financiamento das atividades agropecuárias, ao longo dos últimos anos, tem recebido montante decrescente de recursos, sobretudo aqueles destinados ao custeio e à comercialização”.
Canziani compara os montantes do crédito, por tonelada, na safra de 1976/77, com a situação hoje. Naquela ocasião, a relação era de cerca de R$ 2.065,00 por tonelada de grãos produzidos, enquanto na atual safra esse valor caiu para cerca de R$ 350,00, conforme os dados apurados pela Conab e pelo Banco Central.
Por outro lado, aponta o deputado paranaense, os custos de produção cresceram significativamente. No Paraná, por exemplo, em doze safras consecutivas os custos de produção do milho aumentaram 144%; os da soja, 167%; e os do trigo, 242%. Entre as safras de 94 e 05, a rentabilidade, isto é, a diferença entre o preço obtido no mercado e os custos operacionais, do milho caiu, em média, 224%; a da soja, 111%; e a do trigo, 324%. Muitas vezes operando “no vermelho”, o campo vem desempregando. “À revelia do produtor, está-se voltando ao quadro de anos atrás, fonte de sérios desequilíbrios sociais.”
A sobrevalorização do real em relação ao dólar tem ocasionado queda nos preços internos e inviabilizado a atividade, em especial dos plantadores de trigo e arroz, que passaram a ter contra si a concorrência do produto importado – diz Alex Canziani.
O deputado também apontou o descompasso óbvio entre o momento de adquirir a matéria-prima e demais insumos e o momento de vender. “Com a queda constante da moeda norte-americana, nos últimos dois anos e a sua estabilização em baixos patamares, os custos da produção acabam por se situar muito acima dos preços finais, praticados pelo mercado”, explica o parlamentar, tomando por demonstração a safra de 2004/05, quando, no plantio, a taxa de câmbio era da ordem de R$ 3,10 por US$ 1,00, enquanto que na comercialização a relação caiu para R$ 2,40 por dólar.
O deputado federal Alex Canziani foi solidário para com os produtores: “É injusto para quem só logrou se expandir porque buscou tecnologia e produtividade, porque investiu, porque não se deixou abater pelas procelas da vida nacional, porque acreditou – e ainda acredita – que a agricultura representa a grande e a definitiva redenção do país”, concluiu.