Formação de professor precisa melhorar

Pesquisadores e dirigentes da Educação defenderam hoje na Câmara a articulação entre teoria e prática e maior compromisso das universidades públicas na formação de professores. Eles participaram na manhã desta terça-feira do painel sobre formação inicial no “Seminário Internacional de Formação Docente”, realizado pela Frente Parlamentar da Educação do Congresso Nacional com o apoio da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados e da Confederação Nacional do Comércio.
A integração de pesquisa acadêmica e práticas de ensino é um dos princípios do programa de formação de professores da Universidade de Stanford (EUA). Foi o que explicou o pesquisador Ira Lit, doutor em Estudos Curriculares e Formação de Professores daquela universidade americana.
“As instituições de ensino superior precisam estar conectadas com os professores nas escolas, o pesquisador precisa ouvir quem está em sala de aula para verificar se as suas teses estão dando certo”, defendeu Ira Lit.
MISSÃO – Segundo o pesquisador americano, os programas de formação devem também ter como princípios o direcionamento da missão, para que os professores saibam para onde estão indo; a coerência entre conteúdo e ferramentas de treinamento, inclusive adotando metodologias que esperam ser usadas em sala de aula na formação de professores; e ter a equidade e a excelência como critérios em qualquer caminho adotado. Ele propôs, ainda, usar múltiplos métodos de avaliação em ciclos contínuos de desempenho, para ter a percepção exata do que está ou não funcionando na preparação dos professores.
Lit chamou atenção para a importância da colaboração e amplificação dos novos conhecimentos. A Universidade de Stanford convida todos os anos lideranças brasileiras ligadas à Educação para uma imersão de uma semana no seu programa de formação.
PROJETO DE NAÇÃO – Na mesma linha, a diretora executiva da ONG Todos pela Educação, Priscila Cruz, defendeu o diálogo entre teoria e prática. Ela classificou como falsa a tese corrente de que existe uma dicotomia entre uma educação teórica e outra mais voltada para a prática.
Para tornar a Educação efetivamente uma prioridade nacional, Priscila Cruz propõe o colocar a Educação como eixo central do projeto de nação para o Brasil. “Ensinar não é trivial, mas a atividade é trivializada. Mesmo dizendo que apoiamos a Educação, consideramos um profissional especial quem lança um foguete uma vez na vida, mas não consideramos especial um professor que lança todos os anos dezenas de foguetes que são os alunos que ajuda a formar”, comparou Cruz, que elogiou a inciativa do presidente da Frente da Educação, deputado Alex Canziani (PTB-PR), de realizar o seminário. Segundo o presidente da FPE, eventos do gênero enriquecem as discussões e privilegiam ações reais.
COMPROMISSO DAS IES – O coordenador do Mestrado e Doutorado da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Fernando Abrucio, cobrou maior compromisso das Instituições de Ensino Superior na formação de professores. “Nos cursos de Pedagogia e mesmo nas licenciaturas, a formação dos professores é um objetivo secundário. Pesquisa dá mais status. Precisamos reorganizar isso colocando o professor como a principal matéria prima da pesquisa. As universidades públicas deveriam colocar a formação dos professores em primeiro lugar, sustentou Abrucio.
Ele defendeu também a reformulação dos currículos, articulando a formação prática com a teoria. “Isso significa saber resolver problemas”, concluiu.
COLÉGIOS UNIVERSITÁRIOS – A articulação entre teoria e prática é o objetivo da experiência da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) que criou os chamados colégios universitários usando as instalações da rede pública de Ensino Médio. O resultado, segundo o reitor Naomar Almeida Filho, é que 51,2% dos alunos que concluíram o primeiro ciclo na universidade escolheram seguir carreira de docência. Pesquisa do Todos pela Educação indica que apenas 2% dos alunos do Ensino Médio optam por seguir a carreira (30% cogitam se tornar professores mas desistem por falta de estímulos).
A UFSB tem uma proposta de regime quadrimestral e currículos flexíveis, que permitem os alunos seguirem trilhas de licenciaturas e bacharelados interdisciplinares, conectados com os colégios universitários.
COMPROMISSO EMPREENDEDOR – A diretora de Formação de Conteúdo da Educação Básica MEC, Carmen Moreira de castro Neves, elogiou o modelo da UFSB. “A universidade tem autonomia, mas isso não significa falta de compromisso. O reitor precisa ter uma visão empreendedora, como vimos na UFSB. Precisa trabalhar com as redes de ensino! Como um reitor de universidade pública federal diz que não quer trabalhar com formação de professores?”, questionou ela.