Especialista sugere integração para melhor ensino

AssCom Alex Canziani
4 de Maio de 2016 - 10:46 h

O ensino híbrido, ou “blended learning”, é uma das tendências da Educação do século 21, que promove a integração entre o ensino presencial e propostas de ensino online visando à personalização do atendimento escolar. O assunto foi tema de palestra promovida hoje, no Plenário 10 da Câmara dos Deputados, pela Frente Parlamentar da Educação do Congresso Nacional e pela Comissão de Educação da Câmara, dentro do ciclo de palestras “Educação em Debate”. O evento foi coordenado pelo presidente da FPE, deputado Alex Canziani (PTB).

Segundo Canziani, temas do gênero, como o debatido, enaltecem bastante e mostram quão complexo é estruturar e melhorar a qualidade da educação brasileira.

Convidada para a palestra, a doutora Lilian Bacich, da USP, falou do projeto desenvolvido pelo Instituto Península e a Fundação Lemman, que permitiu o lançamento do primeiro curso de ensino híbrido do Brasil, em abril de 2014. O curso serviu para criação de um grupo de experimentações em Ensino Híbrido, formado por 36 professores selecionados entre 1.700 profissionais de todo o Brasil que se inscreveram para participar do programa.

NOVA SALA – Nas oficinas que participaram, os professores foram desafiados a reorganizar o espaço da sala de aula e a refletir sobre o papel dos estudantes. Bacich explicou que, numa nova organização da sala de aula, os alunos passam a conversar entre eles e os papéis mudam. “O professor passa a ser mediador e o aluno mais protagonista. Aparecem alunos que assumem liderança e passam a colaborar no processo de ensino. Isso mesmo antes de usar a tecnologia – só com a reorganização. Só depois é que a gente introduz os recursos da tecnologia”, afirmou ela.

ENVOLVENDO A COMUNIDADE – Segundo a professora da USP, que é doutora em psicologia escolar e do desenvolvimento humano, para dar efetividade à nova proposta pedagógica é preciso envolver os gestores e toda a comunidade escolar, incluindo as famílias. Além disso, é preciso oferecer recursos ao professor, promover a troca de experiências e refletir sobre formas de personalizar a avaliação dos alunos.

“Pesquisas enfatizam a importância de uma reelaboração da cultura escolar para uso das tecnologias. Substituir apenas a lousa tradicional pelo recurso tecnológico não traz benefícios. Será a mesma aula e, portanto, o mesmo resultado”, sustentou Bacich.

MÉDIA X BORDA – O problema do ensino tradicional, apontam os críticos, é que ele é normalmente voltado pra média – nem é dirigido aos que têm dificuldades e nem para os que assimilam o conhecimento mais rápido. Citando o pesquisador L. Todd Rose, Bacich afirma que se desenhamos um ambiente de aprendizagem para média, fazemos esse ambiente pra ninguém. Aqueles com mais dificuldades não acompanham e os mais avançados se desinteressam.

“Mesma avaliação pra todos não é uma avaliação justa. Precisamos trabalhar pelas bordas e não com as médias. Daí a importância do papel da avaliação e da utilização eficiente de dados que as tecnologias digitais permitem. A oferta de dados dá de forma mais rápida o resultado do ensino. Na sala de aula o professor tem, ao longo do semestre, oportunidades de avaliação por meio de formulários on-line que os alunos podem preencher. Isso proporciona uma experiência integrada da aprendizagem, de forma que o aluno possa controlar o ritmo, o espaço e o seu próprio tempo e se colocar no centro de todo o processo”, argumentou a consultora do Instituto Península.

MODELOS – Bacich explica que a estrutura de ensino no Brasil de escola seriada e dividida em disciplinas torna mais adequado o modelo de rotação de estações. Nesse modelo, as turmas se dividem em vários grupos trabalhando com propostas diferenciadas que se integram. Essa configuração favorece uma ação colaborativa com uso compartilhado da tecnologia disponibilizada, evitando o isolamento de alunos.

Outro modelo adotado no país é de rotação de laboratório (ou lab rotation, em inglês), na qual são combinados momentos na sala de aula e no laboratório de informática, com conteúdos complementares. Assim, para uma disciplina, o estudante pode passar a primeira aula em um laboratório de informática usando recursos online para o primeiro contato do tema. Na aula seguinte, com a ajuda do professor e em companhia dos colegas, ele pode aprofundar o que aprendeu e aplicar os conceitos, desenvolvendo projetos, debatendo o assunto, trabalhando exercícios de contextualização, tirando dúvidas, entre outras atividades.

FOCO NO ALUNO – Lilian Bacich concluiu sua apresentação afirmando que “não é a tecnologia que deve estar no centro do processo, mas sim o aluno. Também é muito importante o apoio dos gestores e o envolvimento de toda comunidade escolar com a proposta. O aluno pode até achar interessante, mas se o seu entorno, a sua própria família compreender aquilo como aprendizagem, ele vai aproveitar melhor”.