O drama do basquete londrinense

Jogadores estão sem salários há mais de 70 dias, diretores do clube trocam acusações e torcedores reclamam da falta de apoio ———————— O basquete londrinense atravessa a maior crise de toda sua história. Nem quando a modalidade era praticada por amadores, que jogavam pelo simples amor ao esporte, a falta de recursos e estrutura alcançava os patamares atingidos na atual temporada. Os jogadores estão há mais de 70 dias sem receber salários. A cada viagem pelo Campeonato Nacional de Basquete Masculino, a direção do Londrina Basquete Clube (LBC) precisa fazer ”malabarismos” para colocar o time em quadra. Sem receber qualquer ajuda da Confederação Brasileira de Basquete (CBB), o clube enfrenta dificuldades para pagar hospedagem e alimentação dos atletas e comissão técnica durante as viagens. Mas por que a situação chegou a esse ponto? A Folha ouviu dirigentes do clube, políticos, comissão técnica, jogadores e torcedores na tentativa de buscar uma resposta e, quem sabe, uma solução para o drama do clube, que está com seus dias contados. Dirigentes já avisaram que não pretendem manter o clube em atividade após o Campeonato Nacional. Em um ponto todos os entrevistados concordam: a crise do LBC está diretamente ligada à compra da vaga para o Campeonato Nacional. Como não conseguiu a vaga na quadra Londrina foi vice paranaense e somente o campeão (PetroCrystal) tinha lugar garantido , o clube aceitou a proposta da CBB de pagar R$ 150 mil para ser ”convidado”. A alegação da CBB era de que o dinheiro seria utilizado para custear as viagens e hospedagens dos times visitantes em Londrina. Os diretores do clube só não esperavam que o dinheiro sairia da verba de patrocínio da empresa de telefonia TIM. Segundo o presidente do LBC, Walter Montagna, durante a campanha eleitoral o prefeito Nedson Micheleti (PT) prometeu que conseguiria junto a empresários o dinheiro para repassar à CBB. A aposta era que o retorno de mídia obtido em 2004, cerca de R$ 5,3 milhões, seria suficiente para conquistar novos investidores. No caso de não conseguir os recursos com empresários, segundo Montagna, a prefeitura ficaria responsável por pagar os R$ 150 mil. Como isso não aconteceu, o clube precisou solicitar à TIM que adiantasse a verba dos R$ 250 mil de patrocínio que seriam repassados durante o ano. O próprio deputado federal Alex Canziani (PTB), que intermediou a negociação entre clube e CBB, concedeu uma coletiva no dia 23 de outubro de 2004, informando que a prefeitura ajudaria o clube a angariar os recursos. ”O prefeito disse que ajudaria o clube a viabilizar os recursos junto à iniciativa privada. Não afirmou que a prefeitura pagaria”, declarou Canziani. O deputado federal garante não se arrepender de ter ajudado Londrina a entrar no campeonato pela porta dos fundos. ”Fiz isso porque o time iria acabar. É uma pena que isso pode ocorrer agora”, comentou. Prefeitura A assessoria de imprensa da prefeitura informou que Micheleti cumpriu com o que havia prometido, já que negociou com a TIM o aumento da verba de patrocínio, de R$ 200 mil em 2004 para R$ 250 mil esse ano. Conforme a assessoria, a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) não permite que o poder público repasse dinheiro para o clube com a finalidade de pagar pela vaga. A assessoria completou ainda que para amenizar os problemas, a prefeitura, por meio da Fundação de Esportes de Londrina (FEL), aceitou a proposta do LBC de reduzir de dez para seis o número de parcelas do Programa de Incentivo para a Realização de Projetos Esportivos. Ao todo, o clube receberá R$ 310 mil do Fundo. A primeira parcela deverá ser repassada após o término da greve do funcionalismo público, prevista para acontecer amanhã. (FOLHA DE LONDRINA, 27/03/2005)